“Como nos aproximar das potências amazônicas e pluralizar os reflexos daquilo que é visto do lado de dentro? De que maneira é possível ressaltar a força motriz e imagética da madeira, tanto no arranjo interno dos tempos e corpos, quanto na multiplicidade de suas culturas e crenças frente à natureza de cada espaço e cada contradição desenhada do lado de fora dessas pré-paisagens que são concebidas pelo imaginário social, político, econômico e racial, incluindo o da minha própria cabeça?”
São com essas inquietações em mente que Marcela Bonfim – nascida em Jaú, interior de São Paulo, mas vivendo há onze anos em Porto Velho – lança “Madeira de Dentro. Madeira de Fora”. A exposição, já disponível para acesso online, apresenta mais de 150 imagens que registram parte do percurso documental que a ativista cultural fez em suas andanças sobretudo por distintos cantos de Rondônia e do Amazonas, Pará, Maranhão, Acre e as fronteiras Bolívia / Peru. Nesse trajeto, a fotógrafa narra sua busca dedicada em refletir o pertencimento e os contrastes diante das tantas narrativas e existências presentes em identidades, saberes e memórias desses povos e territórios.
As imagens desta série é referente à comunidade ribeirinha de Nazaré, Baixo Madeira, em Rondônia, que tem sido afetada todos os anos no período do inverno Amazônico, que se inicia em Setembro com as chuvas, e vai até aproximadamente o mês de Abril; sendo que o apontamento feito pelos moradores, é o fato das barragens de Santo Antônio e Jirau, acumularem grandes reservas de água nas cabeceiras e não ser possível o controle do volume pluvial nesses períodos, havendo o transbordamento frequente nesse período.
Toda a galeria virtual está organizada sob a perspectiva “tempo, espaço, relações e futuro”, contemplando também a poesia, a música e a melodia como suporte visual, acomodadas em texto e no vídeo “Rio Madeira”, além do áudio-guia Amazônias, embalado pelo instrumental Banzo, uma composição escrita por Marcela ao prefácio do fotolivro Banzo, de Roger Silva, primeiro lugar da microbolsa El País e Artisan, 2020, em breve publicado
“Convido todes à um plano aberto e consciente de observação, intervenção, (re)posicionamento e (re)flexão de suas próprias maneiras de visualizar essas Amazônias, indo para um caminho que ainda não encontramos na ideia, mas anda por todas as partes dessas terras feito a madeira”, ressalta a artista.
O resultado dessa mostra aponta para a diversidade que não é só possível, mas real e muitas vezes despercebida.
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