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Prix Photo
Vive e trabalha em São Paulo, SP. Mestranda em Comunicação e Semiótica na PUC-SP (2023). Utiliza a fotografia como principal linguagem em seus trabalhos, cuja temática central investiga a impermanência, o ordinário da vida e das coisas. Em seu trabalho artístico tem ainda se dedicado a produção de séries visuais que questionam o lugar do feminino na sociedade contemporânea. Seu primeiro fotolivro, “onde jaz meu céu estrelado” foi publicado pela Fotô Editorial, tendo recebido o 1º lugar no Photovisa Biennale LensCulture Photobook Contest, em Krasnodar, na Rússia, e eleito um dos melhores fotolivros do ano pela VOGUE Italia, em 2020. Participa de coletivas, festivais de arte, salões e prêmios, nacionais e internacionais, como o 2023 Sony World Photography Awards (semifinalista na competição profissional, categoria de arte).

Juliana Jacyntho

SP
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Brunno Covello - Prix Photo AF 2014

as coisas restarão para apagar as luzes do mundoas coisas restarão para apagar as luzes do mundoas coisas restarão para apagar as luzes do mundo

Este ensaio parte de imagens de um apartamento abandonado que fotografo desde 2017, situado na cidade que nasci. Nele, morei nos meus primeiros meses de vida com meus pais. Nele, viveu até próximo do fim de sua vida a minha bisavó materna e seus quadros, seus objetos domésticos, rastros de uma vida tranquila e pacata no interior do estado do Rio de Janeiro.
Em estado de abandono e recebendo pilhas de descartes de um comércio vizinho nos últimos anos, o apartamento ganhou contornos fantasmais. As pessoas que ali viveram não mais se encontram presentes. A memória do vivido é turva. Mas as coisas ali estão, testemunhas silenciosas que sobraram, confidenciam segredos, contam a história. E nos olham. Articulando movimentos sutis, as coisas brotam na madeira, racham paredes, mancham as portas, anarquizam o dado e posto para, assim, propor uma nova ordem e escolher lugares possíveis no mundo.
Vivemos a era de catástrofes climáticas, guerras, epidemias. Nossa história é marcada pelo antropocentrismo e pela gula capitalista que deságua na produção excessiva de bens de consumo. Não viveremos o suficiente para consumir tudo o que produzimos e, munidos por algum cinismo tolo, desviamos de montanhas de lixo como se não fosse nosso o problema. Olhemos de volta para as coisas. Escavando memórias, recolhendo e acolhendo o que vimos deixando pelo caminho nos últimos séculos, quem sabe, atravessaremos.
Este trabalho propõe, através de fotografias e assemblagens, um deslocamento do olhar. Uma contranarrativa da história. No centro, as coisas despidas de sua funcionalidade: coisas-livres. Coisas que nos interpelam a assumir uma posição de alteridade perante o mundo e o nosso entorno.
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